Cada dia, mais um dia, agradecer.

Flores, pássaros e cães:

companhias que me fazem feliz.

E no mais, pincéis e tintas.

E fotos do céu.

E no mais, entender,

pelo menos tentar entender,

por que é o homem eternamente lobo do homem.

Sem surpresas,

sem perdão.

Sempre no final da estória

a preguiça do repetido "Fim".

É simples,

nada demais...

Sempre aquele velho e mais que esperado final sem surpresas.

Prefiro olhar o mundo da janela do meu quarto.

Minhas flores, meus pássaros,

meu cão.

Sem medo de ser feliz.

Olhos mágicos

Dois olhos quase sem luz olham a vida a cada manhã de jeito único.
Agradecido, segue reciclando a lata, o ferro, e mais isso e também aquilo...
Paulinho, meu mestre, meu exemplo, um rei africano que veio em navio negreiro?
Quando se apagar totalmente a luz dos seus olhos possa eu te dizer que o dia está lindo e azul como sempre. E possa te dar de volta a alegria que me desperta a cada manhã com seu sorriso real, sincero.
Paulinho, meu mestre, meu rei, exemplo.
Possa Deus adiar pra sempre o apagar da luz que ainda resta em seus olhos mágicos de ver só o bem.

Paulinho, meu rei, meu exemplo.

Esse homem que me lembra a cada manhã que a vida é bonita, que me dá seu melhor sorriso, que nada tem a reclamar de nada, segue reciclando, reciclando, a lata, o ferro, o que pintar...

Paulinho, meu mestre, meu exemplo, minha lição de vida.

Como é que então, Paulinho, assim cheio de alegria e feliz da vida, vai se apagando a luz de seu olho bom...

Dias de olhos pesados de sono.
Entre muitos planos, o desejo de silêncio toma corpo.
Sinto a urgência de tantas coisas...
Ao mesmo tempo, a carcaça vislumbra o momento de descansar inútil ouvindo apenas o barulho do mar.

Muitas palavras desfilam diante dos meus olhos.
Saturação ou simples saudades de Deus?
Minha cabeça em Teu colo: desata os nós dos meus cabelos com Teus dedos suaves e deixa-me dormir, aqui, um pouco.

Friozinho bom!

Meu guru, Paulinho, depois do habitual "Tudo bem com você também?" hoje me perguntou se gosto do frio. Eu disse que sim, que acho gostoso o friozinho da manhã. É que ele nos vê andando um pouco "empacotados", Borg e eu ( aliás, Borg, no seu estado "cão" sem roupinhas de lã) antes do sol aquecer seus raios, e ele, ali, fazendo a "reciclagem" de sua riqueza: sucatas, restos disso ou aquilo, etc, etc. Paulinho deve imaginar que é para nós um sacrifício encarar o ventinho da Opala, às 6 da manhã.

A Opala às 6 da manhã é um encontro com sabiás, andorinhas, bem-te-vis e, num dia de muita sorte, pica-paus, saíras azuis e o bando de miquinhos-estrela. É também a garantia do encontro matinal com Paulinho.

"E você, Paulinho, gosta do frio também?"
"Ah, eu gosto sim. A gente precisa apreciar cada minuto desta vida que é muito boa, não é?"
É sim, Paulinho, quando se é rico, tudo é muito bom.

Tá tudo bem com você também?

Toda manhã, é de lei:
Passo, eu e Borg, pela casa de Paulinho.
Já me acostumei com seu sorriso escancarado.
Antes que eu fale qualquer coisa ele sempre me diz:
"Bom dia, tudo bem com você TAMBÉM?"
Eu acho o máximo esse "também" por que já responde a uma pergunta que eu ainda não fiz!
Aí só me resta responder, "tudo bem também, Paulinho, e no mais?"
Ele olha prá mim, olha mesmo, olho no olho, olho brilhante, e completa:
"Eu não tô reclamando não..."
Me dá vontade de sorrir por dentro.
"Sabedorias deste homem-catador", penso!
Eu também não, Paulinho.
Nesta manhã, mais uma vez, tá tudo azul!